quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Jornalismo Sensacionalista na TV

por Rodrigo Pires

Decorridos mais de dez dias do seqüestro mais longo registrado no estado de São Paulo, ainda há noticiários informando sobre o caso. Sim, isso já era de se esperar e com justiça. Foi um desfecho lamentável para tal brutalidade que acontece não raramente no nosso mundo. Sim, no mundo sim. Não fiquem achando que isso é coisa do Brasil, coisa de país de 3º mundo. Isso também acontece na Europa e na América do Norte. Ainda que existam inúmeras diferenças, como por exemplo o preparo da polícia, há também uma diferença significativa no trabalho da imprensa.

Onde já se viu uma apresentador(a) de um programa de televisão, jornalista, ou seja, uma pessoa esclarecida dos fatos ter um diálogo aberto via celular com o seqüestrador. Onde já se viu tanta abertura assim para um delinqüente poder falar em rede nacional como se ele fosse um astro, sendo tratado como um coitado, sendo que naquela situação a coitada era sua ex-namorada, Eloá, de 15 anos. O jovem Lindemberg Alves, de 22 anos foi tomado por ciúmes e cometeu tal loucura. Mas infelizmente não foi apenas ele – o que já seria demais - mas sim jornalistas experientes, com anos de imprensa, que por algum motivo achou que dar espaço à esse tipo de pessoa aumentaria o ibope do programa, ou então seria um herói de “salvar” a vida dos reféns. Sim, reféns porque além de Eloá, havia também Nayara, sua melhor amiga.

Ao que sabemos, o Lindemberg conversava com o negociador da polícia, estava calmo e já dizia que poderia liberar a refém e se entregar, mas logo após falar ao vivo para uma rede de televisão ele mudou de idéia, virou “pop star’, deu um tiro pela janela e já não sabia se ia libertar sua ex-namorada. É esse o jornalismo correto? É por aí que devemos andar e levar adiante nosso trabalho? Estou decidido que não. Função de jornalista é informar, esclarecer informações ao público, falar, escrever e mostrar o que ocorre no dia a dia, o fato e a vida em si.

Dou graças por saber que são uma minoria os que acham que sensacionalismo é o caminho certo para se noticiar fatos tão importantes, de se fazer um jornalismo correto e plausível. Mas como toda ação gera uma reação, não pude me calar por presenciar o acontecimento. E mesmo que criticado por jornalistas de outras emissoras e até pelo comandante da polícia no local, como um fato que pode ter atrapalhado o andamento das negociações de libertação dos reféns, não vi, por exemplo, a Associação Nacional dos Jornalistas se manifestar sobre a cobertura jornalística deste episódio importante. Tudo bem que o fato da polícia invadir o apartamento onde era o cativeiro, bem como a morte de Eloá serem, nesse momento, bem mais importante, acredito que debater o fato de se fazer jornalismo sensacionalista nos dias atuais, onde cada um age da forma que acha certa, seria interessante, no mínimo, para não dizer extremamente necessária a fim de pautar as próximas tragédias que infelizmente presenciaremos, por culpa seja lá de quem for.

A tevê atrapalhou nesse caso? Ou independente de uma emissora de tevê dar um espaço enorme ao seqüestrador, sem que o comando policial saiba, em meio a uma negociação de liberação de refém, o caso seria trágico como foi? São indagações que somente o tempo- talvez nem ele- possa nos mostrar a verdade. Tevê e rádio são de extrema importância no mundo democrático que vivemos, mas, saber o seu limite, ajuda na vida longa desses dois meios de comunicação tão importante em nossas vidas.

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