sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Maioridade precoce

por Maurício Levy

Neste último mês, o Brasil viveu momentos de tensão: uma adolescente de 15 anos foi morta pelo ex-namorado após ser mantida refém por mais de cem horas em sua casa, no interior paulista. A relação havia começado há três anos, quando o rapaz tinha 19. Ela, apenas 12.

Com a popularização da tecnologia, cada vez mais cedo crianças têm acesso fácil à informação. Você conhece alguém na faixa etária entre 10 e 14 anos que ostenta possuir um celular? Ou então, acessar a toda hora e qualquer custo sites de relacionamento e comunicação na internet? Se sua resposta foi não, lhe faço outra pergunta: tem certeza que está no século XXI?

"Hoje não há barreiras. Uma criança de 12 anos sabe muito bem o que é, como é e como se faz sexo", conta Cristhiane Ganzo, psicanalista porto-alegrense que trabalha com relações vinculares. Mas afinal, essa liberdade demasiada faz bem? "Não há uma idade certa para começar a namorar, como não há idade certa para viajar, para começar uma faculdade, para tentar a vida em outro país, para rir, para chorar..." se diverte a liberal Cristhiane, que completa: "Cada pessoa é um indivíduo, tem a sua natureza. Cabe a si mesmo saber se está pronto para namorar ou não. Conheci jovens de 18 anos que sequer beijaram, assim como há quem tenha descoberto esse 'poder' muito cedo. Se essa liberdade faz bem só o tempo para dizer. Não há regras. Cada pessoa tem a sua natureza".

Do outro lado da moeda, há quem defenda uma maior restrição a certa liberdade. "As crianças estão perdendo sua pré-adolescência, estão pulando direto da infância para a adolescência ou maioridade. E vendo pelo lado social, pode ser preocupante todo esse acesso ao sexo precocemente. Será que popularizou também as informações para combate à gravidez precoce? A resposta é não. Reforça-se o pedido para que comunidade e Poder Público ajam juntos na instrução de crianças e pré-adolescentes, se é que eles ainda existem" afirma o analista político-social Chantós Marianni.

Prender, soltar, deixar sair de vez em quando: dúvidas que imperam na cabeça da maioria dos pais. Na consciência de Denise Bittencourt, mãe de Laura, de 18 anos e Mário, de 20, não: "Meus filhos sempre foram a festas desde cedo. Porém, não querendo puxar a brasa para o meu lado, eles sempre foram bem instruídos, sempre souberam dos perigos do sexo inseguro".

Se a tecnologia, essa nova cultura de massa entre crianças, irá fazer bem para a sociedade, só o tempo dirá. Enquanto não sofremos as conseqüências - que virão a longo prazo, cabe aos adultos levarem aos menores o conselho: tudo tem seu tempo, basta apenas você descobrir quando.

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