sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Carol Teixeira: escritora, filósofa e louca pela vida

por Tássia Jaeger

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Pessoas mesmo são os loucos, os que são loucos por viver, loucos por falar, loucos por serem salvos (...)". Esse pensamento de Jack Kerouac está estampado na parede da sala de Carol Teixeira. Grifar frases nas paredes é outra de tantas maneiras que ela encontrou de transbordar, como se não bastassem as frases tatuadas em seu corpo, escritas em seu blog e em seus livros. Carol é assim, transparente. Seu corpo, seu jeito, sua casa, seus livros, tudo é ela.

A escritora e filósofa, de 29 anos é autora dos livros "De Abismos e Vertigens" e "Verdades & Mentiras". É colunista da Cool Magazine e dos sites www.lpm.com.br e www.queb.com.br, além de editora da nova Revista do Beco. Já escreveu peças de teatro, fez programas de rádio, participou de um reallity show, viajou pelo mundo, foi dona de bar, ama a noite, Nietzche, Caio Fernando Abreu, Fred e, acima de tudo, a vida.

Pravariar: Qual a relação que tu vês entre a escrita e a Filosofia?
Carol Teixeira: Na hora de escolher a faculdade que vamos cursar, sempre há quem queira nos direcionar. Se tu gostas de escrever, tens que ser jornalista. Se tu gostas de argumentar, tens que ser advogada. E não é porque tu tens que ler ou escrever bastante numa profissão que isso tenha algo a ver com a literatura. Eu queria alguma coisa que abrisse minha cabeça, então pensei que a Filosofia era a opção que mais ia de encontro a esse desejo. Além disso, eu já tinha lido Nietzsche e gostado. Arrisquei e me apaixonei. Vi que era aquilo que eu queria pra mim. A Filosofia ia ao encontro da minha escrita e interferia nela positivamente. Acho que foi a melhor escolha.

Pravariar: Já que tu falaste em Nietzsche. Por que essa paixão por ele?
Carol: Porque ele é o filósofo que mais questiona. Enquanto todo mundo só construiu conceitos e sistemas, ele foi lá e destruiu o sistema de outros, contestou coisas que ninguém contestou. E não era uma polêmica vazia.

Pravariar: E quanto ao Caio Fernando Abreu?
Carol: Pra mim, sem dúvida alguma, ele é o melhor escritor brasileiro. Ele é muito visceral. Não adianta ter aquela escrita perfeita, bonitinha, dentro dos padrões, mas que não te passa vida. Eu não gosto da escrita limpinha. Ele passa vida, passa sangue. É incomparável a qualquer outro escritor. Ele mistura vida e arte, gosto disso. E fala muito dele, deixa transparecer. É como quando eu leio Nietzsche, eu me arrepio.

Pravariar: Como surgiu teu interesse pela escrita e pela leitura?
Carol: Pois é, eu aprendi a ler com 4 anos e com 6 eu já escrevia poesia. Eu era uma criancinha muito interessada pelas palavras. Enquanto todo mundo estava aprendendo a escrever no colégio, eu já estava lendo muito. Tinha um mundo interior muito vasto e uma coisa muito minha que eu não dividia com muita gente, então escrevia no meu diário. E eu sempre disse que queria ser escritora. Enquanto outras gurias admiravam atrizes e modelos na adolescência, meu ídolo era Paulo Francis. Pra que isso acontecesse, teve duas pessoas chaves. Primeiro a minha mãe. Ela via meu potencial e me incentivava me dando muitos livros. A outra pessoa foi um professor que eu tive dois anos seguidos no Farroupilha, o Miguel.

Pravariar: O que tu podes adiantar sobre o teu próximo livro?
Carol: O nome vai ser "A obscena Sr. C.". Trata da questão da moral, do certo, do errado. A personagem Cecília se coloca numa questão muito duvidosa moralmente, o que vai render muitas opiniões contrárias.

Pravariar: As pessoas que te lêem conhecem mais tua intimidade?
Carol: Me dizem muito isso. Que quando lêem meu blog é como se elas me conhecessem. E me conhecem. Eu falo muito com meus leitores, fico amiga das pessoas. Quando vejo estou contando minha vida pra elas. Eu adoro me expor. Não é que seja exibida, é uma necessidade de transbordamento.

Pravariar: Teus textos falam muito sobre amor, paixão, aprisionamento, libertação. Depois de casar como ficou isso?
Carol: Pois é né, ninguém acreditou que eu casei. Eu acho que só casei e sou tão feliz no meu relacionamento porque descobri uma pessoa que é igual a mim. Se eu fosse homem eu ia ser ele e se ele fosse mulher ia ser eu. Alma gêmea total. Ele também (Fred Endres - guitarrista da Comunidade Jiu-Jitsu e produtor musical) trabalha com criação que nem eu, então ele tem uma vida desregrada que nem a minha. A gente não tem horário pra fazer as coisas, faz o que quer na hora que quer, e isso me dá a sensação de liberdade. Quando tu achas uma pessoa assim não precisas daquele conceito básico e raso de liberdade que é o oposto de um certo aprisionamento do casamento. Transcende um pouco isso. Tu achas liberdade dentro do casamento.

Pravariar: Uma citação de Gide diz que "entre 100 caminhos, a gente tem que escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove". O caminho que escolheste foi bom?
Carol: A escrita foi o melhor caminho profissional, sem dúvida alguma. Claro que fico pensando como seria "se" várias coisas, mas eu soluciono isso através da escrita. Vivo muito através dos personagens que eu crio. O caminho que eu escolhi é o melhor caminho que eu podia ter escolhido.

Pravariar: Por que achas que nasceste em época errada?
Carol: Acho que nasci em época e sociedade errada. Eu ia ter adorado nascer naquela época do Tarso de Castro, do Pasquim, daquela galera boemia e inteligente. Era uma época de efervescência cultural muito grande e, hoje em dia, não tem mais isso. Não era pela questão política, que não me interessa. Hoje os jovens são muito pouco cultos e não buscam cultura. Eu amo cultura e não entendo como tem gente que não a consome, gente alienada. Essa é a chamada geração fragmentada, cresceu com a Internet, tem mais conhecimento, mas pouco aprofundamento.

Pravariar: Para escrever teus contos te inspiraste em algum outro autor?
Carol: Eu não me inspiro diretamente em ninguém. Se me inspiro é inconsciente. Acabo pegando um pouco (inconscientemente) dos autores que eu gosto, do Caio, por exemplo. Mas não é porque é meu ídolo que vou tentar me inspirar nele. Eu gosto também do Milan Kundera, que eu acho um romancista muito bom. Mas eu tenho uma maneira muito minha de escrever, um estilo e uma linguagem bem definidos.

BATE E VOLTA
FILOSOFIA É: questionamento.
ESCREVER É: o que me salva da loucura.
VIAJAR É: uma espécie de possibilidade de viver outra vida.
TATUAGEM É: mais uma das formas que eu tenho de transbordar.
AMAR É: a melhor coisa do mundo.
LIBERDADE É: relativa.
LER É: quase melhor que escrever.
VIVER É: um eterno aprendizado.
CAROL TEIXEIRA É: a pessoa mais intensa e hiperativa que eu conheço.
DESAMADURECER É: a pós – graduação do ser humano.
MELHOR LEMBRANÇA: eu vendo o mar da Grécia (sendo que eu odeio o mar).
PIOR LEMBRANÇA: qualquer insônia minha.
SONHO: não tenho sonhos, tenho objetivos.
VICIO: chocolate (Nutella).
CONSUMO: livros.
LIVRO: "Os Dragões não Conhecem o Paraíso", Caio Fernando Abreu.
FILME: "E Sua Mãe Também", Alfonso Cuarón.
MÚSICA: "My Baby Less", Rocks.
FRASE: "Torna-te quem tu és", Nietzsche.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto mto do site da Carol... Mas nunca deu pra falar, pq não dá pra deixar comentários. Então to deixando aki... Carol, estás linkada no meu blog! Bjosss